05 de maio de 2021
Se, dez anos atrás, alguém me dissesse que um livro meu iria ser publicado e ainda por cima por uma das minhas editoras preferidas, eu provavelmente acharia que essa pessoa estava maluca. Ainda assim, aqui estamos nós!
Comecei a escrever Eu, cupido quando tinha uns 17 anos, em 2010. Foi de forma despretensiosa e, assim como a maioria das ideias que eu tenho, a empolgação não durou muito. Escrevi menos de 10 capítulos antes de deixar de lado e esquecer que existia. Só voltei a tocar na história 5 anos depois, quando comecei a postá-la no Wattpad e consegui por fim concluir o livro. Tenho uma certa dependência de aprovação e reforço positivo, o que os leitores do Wattpad ajudam a suprir muito bem. Não à toa, além de Eu, cupido, concluí mais de 5 livros e alguns contos lá na plataforma. Mas estou desviando do assunto.
Era 2015 quando eu me reencontrei com Paco e Liliana, e foi muito por acaso. Tenho dezenas e dezenas de inícios de história, ideias não concluídas, sombras de enredo. Frequentemente, eu tenho a mesma ideia várias vezes sem nem perceber. Foi assim que Eu, cupido voltou para a minha vida: resolvi escrever uma história inédita para o Wattpad que se chamava Na mira do cupido; acho que cheguei a publicar uns três capítulos antes de parar e lembrar, “Ei, acho que eu já tive uma ideia para um livro sobre cupido!”. Procurei no meu estoque de arquivos do Word abandonados e qual não foi minha surpresa ao descobrir que eu tinha, não só uma, como TRÊS histórias sobre cupido com mitologias diferentes! Todas de mais ou menos a mesma época…
Quando me perguntam qual foi minha inspiração para escrever Eu, cupido, eu não consigo me lembrar com clareza. Mas, obviamente, com 17 anos eu era obcecada por cupidos. Tenho a vaga ideia de um possível culpado: o seriado Cupid, de 2009, que foi injustamente cancelado antes da hora e me deixou com um final inacabado. Nesse seriado, o protagonista dizia ser o Cupido, alegando que tinha sido mandado para a Terra por Zeus como punição para alguma coisa. A pena era juntar uma quantidade de casais que eu não lembro exatamente agora (talvez 100?). A outra protagonista era uma psicóloga que havia adotado o Cupido como um paciente; de início, ela achava que ele era só um cara maluco, mas, com o passar dos episódios, foi começando a acreditar que talvez ele estivesse falando a verdade. Parece familiar?
Para quem não sabe, Eu, cupido conta a história de Liliana, uma menina que se recusa a se apaixonar, e Paco, o cupido estagiário que foi enviado para cumprir a missão de fazer a garota se apaixonar por seu melhor amigo. Acontece que ele acabou se atrapalhando. Era para ele ser invisível para ela, mas, de alguma forma, ela conseguiu vê-lo. Achou que era um ladrão ou assediador e quebrou a mão dele. O pobre do estagiário, que tem um chefe muito cruel, pede a ajuda de Liliana para concluir os serviços de cupido na área, e ela acaba topando.
Com 17 anos, o final dessa história era trágico. Eu acabei mudando, primeiro para não passar uma mensagem errada, e segundo porque eu não queria ser assassinada pelos meus leitores.
Quando terminei de postar Eu, cupido no Wattpad, a história tinha por volta de 16 mil leituras, o que já era impensável para mim. Logo após a conclusão, recebi mensagem de uma funcionária da plataforma perguntando se poderia colocar o livro nos Destaques do Wattpad (uma espécie de painel central que ficava exposto para todos os leitores do Wattpad). Foi aí que tudo tomou proporções que, ainda hoje, não consigo muito bem dimensionar.
Muitas coisas boas aconteceram na minha vida por causa desse pequeno acaso. Primeiro, finalmente ganhei um palco para contar minhas histórias, além de leitores fiéis que me acompanham até hoje. Segundo, fui presenteada com diversas amizades especiais. Terceiro, fiquei meio louca, perdidinha, e acabei escrevendo um livro 2 não planejado para a história e eventualmente um livro 3 também (os dois ficaram horríveis; eu deletei, mas até hoje tem gente que me pede para botar de volta). E quarto, mas não menos importante: oportunidades incríveis vieram até mim e meus sonhos se tornaram absurdamente mais fáceis de alcançar.
Claro que tem muito mais coisa que aconteceu comigo, mas não tenho tempo nem espaço para colocar tudo aqui. E preciso destacar a coisa importante, aquela que agora mesmo está me fazendo escrever esse texto: a publicação de Eu, cupido pela Editora Nacional!
Sim, mais de dez anos depois do início da escrita, quase seis da finalização, Eu, cupido irá tomar forma física e enfeitar estantes por aí. O melhor de tudo: isso vai acontecer na incrível nova fase de uma editora que eu amo de paixão com ajuda de uma equipe maravilhosa.
Para essa publicação, muita coisa foi mudada no livro a fim de deixá-lo o mais redondinho possível. Leitores antigos, podem ficar tranquilos que a estrutura é basicamente a mesma. Eu só consertei alguns buracos no enredo e atualizei a linguagem, porque, vamos combinar, ninguém iria querer ler um livro que eu escrevi com 17 anos. A mudança mais importante, no entanto, foi a inclusão de representatividade na história.
Com 17 anos, isso era algo com que eu não me preocupava. Na minha bolha privilegiada, nem tinha me ocorrido a ideia de fazer livros mais plurais. Eu não me sentiria bem se isso se estendesse até hoje, com tudo o que vivi, com tudo o que aprendi, com todas as pessoas que conheci no caminho. Quero que o máximo de pessoas possível possa se enxergar nos meus personagens – e eu já tive um gostinho disso quando uma colega na editora (BEIJOS, JU VOLTA, TE AMO) olhou a Liliana negra na capa e, toda feliz, disse: sou eu! E imitou a pose da personagem. Isso me emocionou mais do que eu deixei transparecer. Não vejo a hora dos vários leitores de Eu, cupido verem a capa e também poderem dizer “Sou eu!”.
A mudança foi muito sutil, mesmo porque eu não tenho o costume (nem o talento) de descrever personagens. Na versão inicial lá dos meus 17 anos, Liliana já não era uma pessoa branca; como o texto tentava ser gringo (haha), o nome Liliana Rodríguez (como era originalmente) já me indicava que ela tinha alguma definição racial. Ao trazer a história oficialmente para solos brasileiros, talvez essa essência tenha se perdido um pouco, afinal somos todos latinos aqui. Achei que declarar que Liliana é negra seria um bom jeito de reforçar as origens. E, além de tudo, não tinha nenhum motivo plausível para ela não ser negra.
Espero muito que vocês gostem da versão nova do livro, que vai ser publicada com tanto carinho pela Editora Nacional muito em breve. Não vejo a hora de poder compartilhar toda essa experiência com vocês.
Beijos e obrigada por TUDO,
Julia Braga